A pneumonia é um diagnóstico comum em bezerras leiteiras, sendo normalmente causada por uma infecção mista, ou seja, entre vírus e bactérias.
A doença é definida como uma inflamação do parênquima pulmonar, geralmente acompanhada da inflamação dos bronquíolos e frequentemente com pleurite.
Os sinais clínicos são variados e os animais podem apresentar aumento da frequência respiratória, taquicardia, hipertermia, corrimento nasal, depressão, inapetência, alterações na profundidade e características respiratórias, tosse, sons anormais à ausculta, e nos casos de infecção bacteriana, podem apresentar sinais de endotoxemia.
Nesse texto iremos entender melhor a relação que existe entre o ambiente das bezerras e a pneumonia, trazendo os mecanismos de controle de temperatura corporal que as bezerras possuem e os fatores ambientais que estão associados a doença, como o espaçamento entre os animais, aninhamento, ventilação e também escore já definidos que contribuem para o diagnóstico preciso e rápido em casos de pneumonia.
Sabemos que a segunda maior causa de mortalidade de bezerras em fase de aleitamento se trata da Doença Respiratória Bovina (DRB), podendo ser a broncopneumonia ou a pneumonia. Essa doença além das perdas econômicas geradas, provoca efeitos significativos na sobrevivência, desenvolvimento e produtividade futura da bezerra.
Aquelas que apresentam DRB tem idade ao primeiro parto aumentada e duas ou mais chances de morrer antes do parto do que bezerras que não tiveram a doença antes dos 90 dias de idade.
Além disso, essas bezerras positivas para DRB podem ter um desempenho comprometido, apresentando um menor ganho de peso diário e uma menor produção na de leite na primeira lactação.
Mecanismos de controle da temperatura corporal
A variação climática e meteorológica tem grande impacto nos quadros de pneumonia, existem fatores de riscos relacionados ao ambiente das bezerras que podem estar associados à incidência de casos de pneumonia. As bezerras possuem uma zona termo neutra (ZTN), a qual se trata de uma faixa de temperatura em que o ganho e a perda de energia pelos animais são mínimos.
A faixa crítica inferior (TCI) é de 15º C e a temperatura crítica superior (TCS) é de 25º C, a temperatura corporal dentro dessa faixa é mantida sem mudanças na produção de calor metabólico ou ativação da perda de calor evaporativa. O inverno é a estação do ano mais desafiadora para o aumento de doenças respiratórias na produção de bezerras, essa maior ocorrência está associada a alguns fatores, como:
- Aumento da exposição à patógenos;
- Temperatura;
- Umidade;
- Piora da qualidade do ar em galpões fechados devido a redução da ventilação.
Em primeiro lugar, a variação de temperatura deixa as bezerras mais susceptíveis à um quadro de estresse térmico. Na fase neonatal, elas apresentam redução da capacidade de termorregulação, isso ocorre pois elas possuem um percentual de tecido em menor proporção, entre 2 – 4%, e essa reserva de gordura é denominada gordura marrom.
Quando expostos a temperaturas inferiores a 15º C, os bezerros precisam ativar de forma rápida e intensa mecanismos de termorregulação que resulta em perda de eficiência e atividade das células imunes e também perdas produtivas como redução do ganho de peso.
O processo de produção de calor corporal, denominado termogênese, ocorre de duas formas: termogênese sem tremor e com tremor. A oxidação dessa gordura resulta na termogênese sem tremor, que consiste em processo exotérmico para produção de calor que auxilia o recém-nascido a manter a homeotermia.
No entanto, a reserva adiposa é consumida em poucos dias, dessa forma, o bezerro torna-se dependente da termogênese por tremor. Nesse mecanismo o animal apresenta contrações involuntárias da musculatura esquelética que acelera o metabolismo basal e consequente a produção de calor.
Ocorre ainda a piloereção (ereção do pelo) para evitar a transferência de calor da pele para o ambiente, e vasoconstrição dos tecidos periféricos, pela diminuição do fluxo sanguíneo visando reduzir as trocas de calor e manter a temperatura dos órgãos internos, dessa forma, elas podem não atingir as metas de ganho de peso e de consumo.
O alojamento das bezerras também é um fator que influencia no aumento dos casos de pneumonia. Normalmente é afirmado que criar bezerras dentro de galpões fechados impõe um maior desafio para o sistema respiratório da bezerra, devido a piora da qualidade do ar.
Entretanto, independente da estrutura utilizada para a criação de bezerras (casinhas/gaiolas em galpões ou ao ar livre) elas devem ser limpas, secas, bem ventiladas além de garantir o conforto térmico dos animais.
Bezerra alojada em sistema de bezerreiro argentino demonstrando estar em um ambiente desafiador, com presença de barro e alta umidade. Fonte: Maria Fernanda Faria
Espaçamento entre os animais
Um ponto importante é manter o espaçamento adequado entre as bezerras e construir uma divisão sólida entre elas, permitindo a circulação eficiente de ar além de reduzir a umidade do ambiente.
Casinhas ou gaiolas sem uma divisão sólida, há a tendência de um aumento da incidência de doenças respiratórias, pelo fato de que a os divisores sólidos reduzem a troca de patógenos transportados pelo ar ou transmitidas pelo contato físico entre as bezerras e assim reduzindo os casos de pneumonia.
Gaiolas dispostas lado a lado contando com divisor sólido entre elas. Fonte: Laryssa Mendonça
Aninhamento
Outro ponto que deve ser observado nos animais alojados é o escore de aninhamento, dessa forma conseguimos avaliar o volume de cama dos animais, que é de grande importância para o conforto térmico das bezerras e para reduzir o contato com agentes infecciosos.
Podemos definir esse escore pela posição dos animais em relação à cama e definir a proteção pela temperatura ambiental. Espera-se nesse escore que as patas dos animais estejam encobertas pelas camas, maiores escores são relacionados à menores índices de pneumonia nos animais. Dessa forma, é muito importante para o controle da doença além da troca da cama realizar a reposição em quantidade adequada para garantir que os animais sejam capazes de manter a temperatura mesmo com as variações ambientais.
Bezerra em gaiola apresentando um escore de aninhamento ruim, onde a cama não cobre as patas da bezerra. Fonte: Maria Fernanda Faria
Ventilação adequada
Outro ponto de atenção é a ventilação e os galpões mais fechados no período de inverno, que podem aumentar a susceptibilidade à quadros de pneumonia.
O ambiente de permanência das bezerras deve ter ventilação adequada e eficaz, dessa forma, garantimos não só o controle da temperatura do ambiente, como também reduzimos o acúmulo de patógenos presentes no ambiente, excesso de umidade e agentes nocivos, como a amônia.
De forma a contribuir para uma ventilação efetiva desses galpões, é importante salientar sobre a disposição das fileiras das gaiolas e da quantidade das mesmas, lembrando sempre da necessidade da uma adequada ventilação para que se tenha uma boa qualidade do ar, a qual pode ser comprometida para as fileiras que ficam dispostas no centro do galpão em comparação com as fileiras das extremidades.
Durante o inverno, a tendência de fechamento dos galpões provoca o aumento da amônia no ambiente que podem aumentar também os quadros de irritação das vias aéreas, promovendo o lacrimejamento, secreções nasais, tosse e aumento da concentração de macrófagos no lavado broncoalveolar.
Sistema de utilização de cortinas (em azul) no galpão de alojamento das bezerras, onde as mesmas são suspensas de forma automatizada a fim de promover a circulação de ar. Fonte: Laryssa Mendonça
Diante desses fatores, é muito importante que o manejo ambiental esteja adequado nas propriedades para evitar que os animais sejam expostos ao estresse térmico, a grande variação de temperatura, que tenham contato com patógenos infecciosos ou excesso de umidade nas camas que podem estar relacionados ao quadro de pneumonia.
Além de buscar a adequação do manejo, é importante implementar o uso nas propriedades dos sistemas de escores clínicos, como o Escore de Winsconsin e Escore de Califórnia, que usam da observação de sinais clínicos mais comuns para estabelecer um escore de pontuação.
Dessa forma, podemos utilizar do treinamento dos colaboradores para avaliar as bezerras diariamente, como a temperatura retal, presença e característica de tosse, de secreção nasal e ocular e posicionamento das orelhas e também ao seu comportamento, como ficar mais tempo em pé, reduzir o consumo de concentrado, esforço ineficiente ou demora para ingerir o leite, além dos sinais dos escores.
Escore de Califórnia. Fonte: Adaptado de LOUIE et al.,2018
Escore de Winsconsin. Fonte: Adaptado de McGuirk
Por fim, realizando o manejo dos fatores de risco ambientais relacionados a pneumonia podemos reduzir a incidência da doença em bezerras.
É imprescindível que os colaboradores sejam capacitados para identificar falhas em instalações, nos manejos e que possam reconhecer alterações comportamentais nas bezerras e sinais clínicos relacionados ao quadro de pneumonia, dessa forma, reduzimos a prevalência e mortalidade na fase de cria dos animais e os impactos nos índices da fazenda.
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