Halal é um conceito que abrange tudo que é permitido ao consumo dentro dos preceitos da religião mulçumana. O Brasil, como exportador de carne halal, ocupa o terceiro lugar, perdendo apenas para a Malásia e Emirados Árabes.
Para chegar a esse produto, é necessário seguir uma série de regras de sanidade e o produtor deve praticar a rastreabilidade, ações exigidas pela comunidade muçulmana.
Neste artigo, você vai entender como funciona a produção de carne halal, o passo a passo do processo produtivo e a exportação de carne bovina e de frango para o Oriente Médio. Também vamos comentar sobre o seu potencial de expansão interno e de exportação, bem como sobre a certificação desse tipo de produto. Boa leitura!
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Como funciona a produção de carne halal
Os muçulmanos seguem rigorosamente práticas religiosas, com hábitos alimentares específicos e rotinas determinadas por suas crenças, o que se aplica diretamente ao consumo de todos os produtos, desde cosméticos, farmacêuticos até mesmo a alimentação.
Embora seja uma exigência muçulmana o consumo de carne halal, estende-se também por outras comunidades não muçulmanas. Como o rigor sanitário é elevado, muitos países optam pela sua comercialização e venda, pois possuem maior segurança e controle de qualidade e procedência.
De acordo com a legislação dos países do Oriente Médio, toda carne de origem animal somente pode ser comercializada e consumida nos países se estiver devidamente certificada, compreendendo sanidade, higiene e condições de armazenamento do produto. Assim, para que essa certificação seja adquirida, é necessário:
- Avaliação da planta industrial por meio de auditoria com técnico responsável e autoridades religiosas que assegurem os preceitos religiosos;
- Garantia de um funcionário supervisor árabe do regime islâmico para identificar o abate correspondente às suas leis;
- Ao ser abatido, o animal deve estar de frente, em direção à Meca, pois é uma espécie de reverência a Deus;
- Todo o processo deve ser feito em separado e em mãos de funcionário mulçumano, sem a presença de outros tipos de carnes que seguem processos de produção e de abatimento diferentes;
- O animal não poder ser atordoado e o corte deve ser preciso, com faca de corte bem afiado, seccionando as principais artérias do pescoço, garantindo a morte instantânea e livre de dor e/ou sofrimento;
- O ritual inclui a declamação das palavras Bismillah Allahu Akbar (em nome de Deus, “Deus é o maior”).
Passo a passo da produção de carne halal
O abate para a carne halal deve ser feito por uma pessoa muçulmana e esse processo deve passar por uma série de rituais imprescindíveis para a comercialização do produto. Primeiramente, a pessoa responsável pelo abate deve pedir permissão a Alá antes de iniciar os procedimentos, designando obediência e gratidão pelo alimento.
Os animais preparados para o abate devem estar saudáveis e em condições físicas apropriadas para as etapas que se seguem. Essa vistoria é realizada minuciosamente para que todas as regras de produção da carne halal sejam cumpridas. Assim, os passos para a produção da carne são:
- O abatedor deve posicionar o animal direcionado de frente para Meca e falar o nome de Alá na frente do animal;
- Com a faca bem afiada, deve ser feita a degola, atingindo instantaneamente a jugular, a traqueia e o esôfago em um movimento de meia-lua;
- O animal não pode demorar para morrer, pois deve-se evitar o seu sofrimento;
- Deve ser feita a sangria completa do animal e imediatamente ao abate para evitar contaminação;
- A carcaça do animal abatido deve ser devidamente lavada e a água deve ser eliminada conforme a lavagem acontece;
- O álcool é um produto proibido para os muçulmanos, portanto não deve ser utilizado em nenhuma etapa do processo;
- O abate e o transporte devem ser acompanhados por um supervisor ou auditor responsável pela fiscalização da produção;
- O frigorífico utilizado para o armazenamento da carne halal deve ser exclusivo para esse tipo de carne para evitar contaminação com outros cortes.
Todos os equipamentos utilizados para o abate desse animal não podem, sob hipótese alguma, ser utilizados em outros tipos de cortes, mesmo os mais convencionais.
Importância da rastreabilidade para a carne halal
A carne halal produzida e exportada para o Oriente Médio deve ser de bovinos, aves ou carneiros. A carne de porco não é aceita pela religião muçulmana para o consumo, pois é considerada impura, maligna e, portanto, proibida nessa cultura.
Uma das característica da carne halal é optar apenas por cortes do dianteiro. Os países do Oriente Médio têm preferência por alguns tipos de corte. Por exemplo, o Egito prefere comprar paleta, peito e músculos bovinos, enquanto o Líbano busca por contrafilé, filé mignon, patinho e músculo.
Nesse contexto, o Brasil é um dos protagonistas na exportação da carne halal de aves, sendo um mercado com grandes possibilidades de expansão.
Vale a pena conferir os cuidados que envolvem a certificação desse tipo de carne:
- Bem-estar dos animais e condições de manejo;
- Cuidado adequado desde a matriz de postura às condições de rastreabilidade;
- Acompanhamento do manejo empregado ao frango;
- Práticas dos rituais exigidos para a purificação e permissão de consumo.
O destaque fica por conta dos funcionários muçulmanos que estão presentes nas plantas industriais e garantem os preceitos religiosos, além do fato de que todo o manejo e cuidado com o animal, ainda em vida, precisa ser rastreado.
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O que envolve a certificação da carne halal
A certificação garante que os processos estejam de acordo com os princípios da religião islâmica, o que é fundamental. Existem certificadores independentes que verificam todos os aspectos do processo produtivo para garantir a conformidade com as regras religiosas. No Brasil, a principal entidade certificadora é a Confederação Islâmica do Brasil (CIB).
As indústrias de carne autorizadas e credenciados pelas entidades certificadoras possuem equipamentos e instalações específicas, assim como equipe treinada para o abate rápido e humanitário dos animais, além de um controle rigoroso de higiene e sanitização das áreas.
Após o abate, a carne é submetida a uma inspeção cuidadosa para verificar se atende às exigências religiosas, sendo liberada para comercialização apenas quando estiver totalmente apta para o consumo. A etiqueta da carne de halal também traz informações importantes sobre o produto, como o número do registro do frigorífico onde foi processada, além do selo da entidade certificadora.
Potencial de expansão da carne halal brasileira
A carne halal é um produto alimentar que cumpre com os requisitos do Alcorão e da Sunnah, ou seja, é permitido para o consumo pelos muçulmanos. No Brasil, essa carne já é produzida em grande escala e exportada para vários países islâmicos.
Apesar de ser um mercado potencialmente lucrativo, uma das principais barreiras é o custo da certificação halal, que pode ser bastante oneroso para as pequenas e médias empresas. Outro ponto sensível é a falta de legislação específica sobre o assunto, dificultando o controle de qualidade dos produtos e as garantias para os consumidores.
Ainda como uma das principais barreiras, o custo do transporte representa um valor elevado de exportação.
No entanto, apesar de todo esse contexto, o que é produzido no Brasil já alcança índices bastante satisfatórios, com grande potencial de expansão no mercado internacional.
Apesar dos desafios enfrentados pelo setor, as perspectivas para as exportações brasileiras de carne bovina são extremamente positivas. Com o crescimento da população muçulmana global e a melhora nas condições logísticas do país, o Brasil pode se tornar o principal fornecedor mundiais de carne de halal nos próximos anos.
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Um mercado muito promissor
A carne halal é uma opção cada vez mais procurada pelos consumidores. Isso se explica pelo fato de a certificação garantir um alto padrão de qualidade e origem controlada dos produtos, fatores essenciais para quem busca uma alimentação saudável e saborosa.
Portanto, embora se destine a um grupo religioso específico, existem adeptos e simpatizantes desse movimento que contribuem para a crescente desse mercado. Ao criador, investir em boas práticas de produção com rastreabilidade facilita o acesso a esse nicho de mercado, que é mais valorizado financeiramente.
Valorizar a carne no mercado interno brasileiro é um conceito que está completamente relacionado a esse tema. Acompanhe o vídeo que separamos pra você:
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Escrito Por
Concelina Cássia Leme
Médica Veterinária formada pela Universidade de Marília (UNIMAR), desde 2013. Especialista em Microbiologia Aplicada e Imunologia com ênfase em análises laboratoriais e Patologia Clínica de grandes e pequenos animais.