As doenças causadas por fungos são um problema sério na maioria dos cultivos há muito tempo. Assim como os fungos evoluíram ao longo do tempo, as estratégias para o seu controle também foram sendo aprimoradas.
Produtos naturais com ação fúngica, ou seja, a capacidade de controlar os fungos, são usados há mais de 2 mil anos. A calda bordalesa é um exemplo de fungicida usado desde 1885. Mas, com muitas inovações, hoje em dia existe uma infinidade de produtos.
Muitas vezes, o controle químico de doenças é a única medida eficiente e economicamente viável para garantir as altas produtividades e a qualidade da produção.
Já deu pra perceber que os fungicidas são grandes aliados para proteger sua lavoura, certo? Então, vamos entender melhor como os fungicidas agem, quais os tipos que existem e como utilizar estes produtos no combate às doenças. Boa leitura!
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O que são e para que servem os fungicidas?
Existem cerca de 19 mil fungos que podem causar doenças nas plantas, afetando significativamente a produtividade. Estima-se que, anualmente, em torno de 33% da produção agrícola seja perdida por causa das doenças fúngicas.
Para combater essas doenças, contamos com a ação fundamental dos fungicidas, que são compostos químicos empregados no controle de doenças causadas por fungos ou bactérias. Eles podem ser sintéticos (produzidos artificialmente) ou naturais.
Existem também os biofungicidas ou fungicidas biológicos, que são à base de algum agente biológico capaz de impedir o desenvolvimento dos fungos.
Nem sempre os fungicidas matam os fungos. Às vezes inibem temporariamente a germinação dos esporos, que são as suas estruturas de reprodução.
O importante é que, ao serem aplicados nas plantas, os fungicidas protegem-nas da penetração do fungo e/ou do seu desenvolvimento nos tecidos.
Cada formulação de produto fungicida é composto por duas partes distintas:
- Ingrediente ou princípio ativo: responsável pela ação do produto;
- Ingredientes inertes: não têm ação contra a doença, mas serve de veículo e diluente para o ingrediente ativo.
Os fungicidas podem ser classificados de diversas formas. Confira os principais tipos de fungicidas a seguir.
Quais são os tipos de fungicidas?
Os fungicidas podem ser classificados por diferentes critérios, dentre eles quanto ao alvo biológico. Veja um resumo das duas classes no quadro abaixo:
Outra forma de classificar os fungicidas é quanto ao modo de ação. O modo de ação se refere ao processo metabólico no qual o fungicida irá atuar.
De acordo com o Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas (FRAC-BR), os fungicidas podem ser divididos nos seguintes modos de ação:
- Biossíntese de esterol em membranas;
- Biossíntese da parede celular;
- Indutor de defesa em plantas hospedeiras;
- Mitose e divisão celular;
- Respiração;
- Síntese de ácidos nucleicos;
- Síntese de aminoácidos e proteínas;
- Síntese de lipídios e integridade da membrana;
- Síntese de melanina na parede celular;
- Transdução de sinal.
Os tipos de fungicidas mais comuns quanto ao princípio geral de controle são: protetores ou de contato, erradicantes ou sistêmicos. Vamos conhecer cada um deles.
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Fungicidas Protetores ou de Contato
Os fungicidas de contato, como o próprio nome já diz, combatem as doenças nos locais atingidos pelo produto. Ou seja, eles não penetram na planta, são apenas absorvidos e permanecem no local de aplicação.
Estes tipos de fungicidas devem ser aplicados antes de o fitopatógeno penetrar na planta. A sua ação é somente de proteção, eles não têm efeito se a planta já estiver doente.
Dessa forma, eles impedem ou reduzem as chances de ocorrência da doença.
Quando aplicados sobre a superfície das plantas, formam uma espécie de barreira tóxica, prevenindo a penetração dos fungos.
Se a aplicação for feita antes de uma chuva, há grandes chances de ela “lavar” o produto e a aplicação perder o seu efeito. Além disso, o produto deve ter uma boa capacidade de se espalhar pelas folhas para ter uma boa área de proteção.
Os fungicidas protetores ou de contato também podem ser usados no tratamento de sementes, eliminando os fitopatógenos localizados na sua superfície, livrando-as dos fungos existentes no solo.
Os principais fungicidas de contato são os cúpricos, os sulfurados, os ditiocarbamatos (Mancozeb) e isoftalonitrila (Clorotalonil).
Eles têm amplo espectro de ação, podendo controlar diversas espécies de fungos diferentes. Além disso, apresentam atividade multissítio, o que significa que eles atuam em vários pontos do metabolismo dos fungos.
Fungicidas Erradicantes
Estes são os fungicidas mais indicados quando já existem sintomas de doenças. Eles atuam diretamente sobre o patógeno, eliminando-o da superfície de partes da planta ou do solo.
Podem também ter ação protetora, por isso, são muito eficientes no tratamento de inverno de espécies de clima temperado, que entram em repouso vegetativo.
Há outros dois casos em que os fungicidas erradicantes podem ser eficientes: no tratamento de solo e no tratamento de sementes.
Os fungicidas podem ser sistêmicos e apresentar efeito erradicante, eliminando estruturas de reprodução do fungo tanto na superfície do hospedeiro quanto no interior da planta.
Alguns exemplos são o alifático alogenado, o isotiocianato de metila, a calda bordalesa e a calda sulfocálcica. Os dois últimos não necessitam de receita, pois são registrados como fertilizantes foliares, com efeito sobre fitopatógenos.
Fungicidas Sistêmicos
Diferentemente dos de contato, os fungicidas sistêmicos são aqueles que penetram na planta, são absorvidos por ela e translocados, ou seja, movimentam-se na planta, atingindo partes distantes do local de aplicação.
Eles apresentam um efeito erradicante e supressor da infecção, isto é, impedem o avanço da infecção causada pelos fitopatógenos.
Devido à grande capacidade de absorção e translocação, apresentam grande variedade de usos, podendo ter ação imunizante, protetiva, curativa ou erradicante.
No entanto, se a aplicação for feita muito tardia, eles têm pouca efetividade. Por isso, a eficácia será maior se a aplicação for no início da infecção ou de forma preventiva.
Alguns exemplos de fungicidas sistêmicos são os benzimidazois, carmoxamidas, triazois, imidazois, morfolinas, além de algumas estrobirulinas.
Os fungicidas sistêmicos apresentam diferentes graus de mobilidade (ou sistematicidade) na planta, ou seja, alguns se movimentam mais e outros menos. Devido à sua mobilidade, apresentam baixa fitotoxicidade.
Outra característica está relacionada ao controle de patógenos específicos, causando menos desequilíbrio no sistema e menor contaminação ambiental.
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O que são os Biofungicidas?
Os biofungicidas também combatem os fungos, no entanto, ao invés de serem compostos químicos, eles possuem um ingrediente ativo de origem biológica, que são microrganismos (bactérias ou fungos) capazes de controlar as doenças fúngicas.
Atualmente, existe uma única categoria de biofungicidas: os entomopatogênicos. O que é fundamental é conhecer as características do ativo biológico. Além disso, é importante que as condições ambientais e ecológicas estejam favoráveis ao agente biológico.
Normalmente, os biofungicidas são utilizados de forma preventiva.
Qual fungicida utilizar?
Para que um fungicida seja eficaz no combate às doenças, o primeiro passo é escolher o produto adequado. Confira algumas dicas para não errar no controle das doenças da sua lavoura:
- Analisar o contexto da lavoura e da região: conhecer as características da cultura, quais as doenças mais comuns, as características do clima e da espécie do fungo;
- Cuidado na hora da prescrição: os fungicidas devem ser prescritos por meio de receituário agronômico. Esta recomendação técnica só pode ser emitida por profissionais legalmente habilitados e é obrigatório para o comércio de agrotóxicos;
- Analisar a finalidade da aplicação: avaliar se o intuito é prevenir, tratar alguma doença durante o desenvolvimento da cultura ou até da produção pós-colheita;
- Analisar a fase do fitopatógeno: um dos pontos mais importantes é a aplicação no momento certo. Por isso, é muito importante observar qual é o estágio de desenvolvimento do fungo. Alguns fungicidas funcionam melhor para aplicação preventiva, quando o fungo ainda não penetrou nas plantas e está mais vulnerável.
Seguindo essas dicas, o combate aos fungos será muito mais eficiente.
Como utilizar os fungicidas?
O primeiro ponto que deve ser considerado na aplicação de fungicidas são as próprias características de cada produto. Além disso, as doses recomendadas e a frequência de aplicação devem ser sempre respeitadas.
Dependendo da finalidade, o fungicida pode ser usado das seguintes formas:
- Tratamento de sementes: aplicação de fungicidas nas sementes de forma preventiva;
- Tratamento de solo: aplicação no sulco ou com irrigação e pulverização após o plantio;
- Foliar: aplicação com o uso de pulverizador;
- Estufas ou solo coberto: fumigação, com aplicação do fungicida em vapor ou pulverização foliar;
- Tratamento da produção pós-colheita: imersão ou pulverização feita na casa de embalagens.
A pulverização foliar pode ser feita por diferentes tipos de pulverizadores ou por tratores, aeronaves e drones.
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Conclusão
Os fungicidas são grandes aliados do agricultor para proteger as plantas contra o ataque de fungos. Muitas vezes, são a forma mais rápida, eficaz e econômica.
Para que o controle seja eficaz, é fundamental conhecer a fundo as características destes produtos, bem como dos fungos que estão causando problemas.
O manejo de fungicidas deve ser sempre integrado e seguindo as recomendações. Também é muito importante usar diferentes grupos químicos e mecanismos de ação.
Seguindo essas recomendações técnicas e acompanhando as dicas que foram apresentadas aqui, você evita a ineficácia do produto e o surgimento de resistências.
E então, gostou desse conteúdo? Confira também o nosso artigo sobre herbicidas e conheça os tipos, como agem e como fazer o manejo de aplicação correto. Boa leitura!
Escrito Por
Priscila Marchi
Priscila Monalisa Marchi é Engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Santa Maria, Mestra em Ciências, área de concentração em Fruticultura, e Doutora em Ciências, área de concentração em Fitomelhoramento, ambos pela Universidade Federal de Pelotas. Tem experiência e interesse em temas relacionados ao melhoramento genético vegetal, à pesquisa experimental, à fruticultura, à olericultura e ao manejo de grandes culturas. Atualmente é docente do curso de Agronomia, ministrando disciplinas relacionadas à fitotecnia e a experimentação agrícola.